Quando criança
Ouvi dizer que o doce mais doce
Era o doce feito de batata doce.
Enquanto adulto
Experimentei algumas insipidezes, contudo,
O prazer do doce de batata doce, continuava aí.
A beira da velhice.
Vivo a refletir... E dizem-me:
- São puras caduquices.
Quiçá, tenham todos razão.
Pois agora penso que, o mais doce seja o doce de sapoti.
Hoje, retiradas de mim as doçuras,
Valho-me das travessuras, por onde por aí escapo, a
Juntar-me aos meus botões, com quem saio a papear
Num desses meus momentos de caduquice,
De novo pegado aos meus botões me pus a matutar,
Não mais em doce de batata doce ou quer de sapoti.
Mas, no existir dos sabores e dessabores,
dos prazeres e desprazeres, também, na possibilidade
da existência de um outro doce ser o mais doce de todos.
A doçura da batata doce e do sapoti, já ponho em dúvida.
Tal e qual esse divagar, ocorreu-me, de meditar sobre
o existir de uma dor mais doída que qualquer outra.
Quem sabe...
Argumentaram meus botões, digo,
os meus pensamentos, ou sei lá, quem!
Ao supor essa dor, foi necessário questionar o pensamento.
Essa dor, de tão doída, para melhor distingui-la, seria ela:
- A que não ousa se exprimir, nem se atreve soltar um só mísero gemido?
- A que não é chorada, de tão árida, se quer uma lágrima é derramada?
- A que surpreende o espírito e abisma o corpo e o faz cair num hiato da vida,
donde o olhar não ver o apagar do sonhado em meio as realidades utópicas?
- A que afoga o doer em seios de prantos silenciosos e neles dormita sem
acalantos, e de quando em quando, aos sobressaltos se vê despertada,
para ir ninar dores alhures?
Em suma, tal e qual aos meus botões, acho que a dor mais doída, seja:
- A dor que não é física ou aquela que não se pode imputar castigos,
em vista de não questionar culpas ou responsabilidades.
Assim, a dor mais doída seja, talvez, a que se admite cabível em um divã. |