Carinho de minha vida, retorno ao compromisso de deixar a ti as narrações de teu desenvolvimento. Recordações essas que, não grafadas, seriam prazerosamente tragadas pelo Papa-tudo, o Sr. Tempo.
Retornei pelo marcante fato de teres já conquistado teus lindos três anininhos. Passam os dias e segues, ainda mais, prazenteiro. A bem de toda verdade andas um bocado teimoso.
E às vezes me pergunto a quem saíste, porque choras por tudo!
Realiza a situação: Faz poucos dias, choravas por algo que não me lembro, então, tentando livrar meus ouvidos de tuas lamurias disse a ti que, a cada dia que passava, tu estavas ficando ainda mais chorão. Simplesmente, como por encanto se abriu uma lacuna no tempo – Paraste de chorar, por uns segundo, e me conteste a frase dizendo-me: “E você tá ficando velha”. Hilária foi a minha admiração, não há como negar a originalidade de tua tão espontânea e prematura comparação - É quem diz o que quer ouve o que não deseja!
Estamos um pouco mais separados, agora -, assim é a vida Sementinha a distancia é assim como o medo, necessário se faz enfrentá-la -. Fico feliz que sejas assim de tão forte, já nem choras quando nos despedimos.
No decurso a saudade!
Não obstante tudo se apaga e voltamos a ser um para o outro quando nos reencontramos.
Sabes, meu querido, as barreiras que separam os que de verdade se amam são absolutamente ilusórias, pois são os elos do espírito que facultam a proximidade das almas afins, assim é que te sinto pertinho de mim quando estamos na realidade a quilômetros de distância – Fico tranqüila por ter te confiado a mãos cuidadosas quão amorosas. Sendo através desses abnegados seres que tenho sabido de tuas criativas peripécias cotidianas, ou seja, do teu desabrochar infantil.
Lindo é quando respondes quantos anos já tens ao que com um largo sorriso contestas: “Ganhei três anininhos”.
Encanta-me essa tua maneira tão própria de resposta!
Fazes jus, por Divino que és!
Presenteia-nos Deus com a vida e a cada ano de vida nos vai dotando de talentos. Competindo-nos sejam eles multiplicados -, porquanto, na prestação de contas “dar-se-á a todos os que já têm e esses ficarão cumulados de bens; quanto àquele que nada tem, tirar-se-lhe-á mesmo o que pareça ter”.
Faço, melhor dito meu lindo, deixo esse registro primeiro para que lá naquele tempo chamado Futuro consigas afugentar de ti a preguiça e o medo diante das do deveres que te forem impostos; segundo, porque saíste do aconchego das Tias da Creche fazendo-te parte agora de uma outra comunidade. Conquanto, podes ainda contar com calor materno das professoras -, pois bem sei que andas tirando cochilos, em seus regaços, o que me deixa feliz que tenhas a teu favor anjos amigos que amorosamente te acolhem.
A cada situação e em cada sitio devemos nos situar, isto é estaremos sujeitos às suas regras onde se desfruta dos direitos, assim como das obrigações.
Ontem minha Sementinha de Gente, a ti foi dada a tua primeira obrigação; a trouxeste em teu caderno amarelo de capa dura o teu 1º Para Casa – tarefa escolar que deverá ser apresentada hoje para a tia da pré-escola. Estamos no 25º do mês de março de 2008.
Tem sem dúvidas tudo para ser prosaico esses registros que ora deixo para a tua apreciação futura, não fosse a poesia pura do momento em que, com toda a tua admiração e encanto sentaste à escrivaninha improvisada para colorir a folha xerografada recheada de círculos pontilhados, uns grandes outros miúdos – Dizia o enunciado da tarefa: “Cubra as bolas de gude que Pedro espalhou”.
Seduziram-te as canetas hidrográficas e as várias tonalidades dos lápis de cores.
_”Tudo meu, mamãe?”
Para afugentar a tua dispersão e estimular a tua vontade de continuar a tarefa a cada circulo que colorias palmas como elogio.
E quando por ventura eu deixava passar, o teu alerta a mim:
_ “Bate palma, mamãe”.
E como não bater palmas ao teu empenho!
Oriento-te a mão sobre os tracejados desenhos, te fazendo reconhecer os limites das figuras, no cumprimento dos teus primeiros deveres – Hoje Para Casa. Amanhã meu Serelepe, Para Sociedade.
Parabéns!!!!
Meu pequeno Grande Aprendiz.
Tudo deixa de ser vulgar quando, ainda que, prosaico, abrigar em si verdades que de belas, harmonizam-se, compondo maravilhosa poesia.
Constituindo-se a Vida, cada uma, em particular, dentre todos; no mais original Poema.
Composto pelos versos do fazer,
Do acreditar que Ser vai além do ter. (Mamãe)
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