Já sabes o lápis bem segurar, porém ainda falta para dominá-lo na escrita e tuas muitas histórias num caderno poder deixar -, bem sei que queres, como o papai, ser um escritor, e isso, digo não por dedução ou fantasia, é que outro dia tu me disseste "Mamãe, sou igual ao papai..." "É! E o que que faz você?" "Sou escritor, faço história" Juro que foi assim, assim, sem mais nem menos. Parece até história, mas, invoco os anjos como testemunhas. Deixo, porém, meu pensar: concerteza ainda ouvirei tuas expectativas de um dia quere ser, quando crescer, médico, professor, policial, motoboy, cantor, advogado, engenheiro, motorista, gari, presidente, militar... Não compete a mim, determinar para ti uma profissão, mas, implementar os teus sonhos; nas minhas condições e limites, para mais tarde contigo regozijar por te encontrares feliz na execução dos teus propósitos.
Entretanto, enquanto cresces e sonhas, tuas belas telas, a guache; ora a dedos, ora a quatro mãos -, duas tuas e duas das tias, aquém te confio aos cuidados -, se espalham emolduradas nas paredes da nossa casa.
Da gramática não conheces, por agora, as regras, tampouco sabes a direção dos ponteiros, do relógio, porém, disse-me o vovô, da tua noção sobre o tempo, quando protestas deixando o banho pra hora que eu, da repartição chegar, e olhando o velho relógio de parede -, desde a muito sem funcionar -, dizes: “Deixa Vô... Já, já a mamãe chega... Mais tardinha eu banho, tá !?
Ah, minha sementinha, lindo é o teu crescimento, vives a me surpreender!
E eu vivo lidando com os meus muitos sentimentos observando apaixonada o teu desenvolver. Dentre esse sentimentos, vários, está o medo... Tenho tentado afugentá-lo aprendendo quase tudo que se refere sobre gente; sobre gente grande, gente pequena, gente sã; sobre espiritualização, matéria, vida, finanças, fisiologia, psicologia até sobre as muitas enfermidades que tiram a razão da gente. Tenho revisto conceitos, reavaliado meus procederes; tenho refletido, fantasiado... Parecendo-me que, incluso, aprendi a escrever. Em fim...! E, sobretudo, como me manter viva para ver-te crescer. E ainda assim, ele comigo no dia a dia, uma hora eu o enfrento e ele se recolhe, depois é ele que vem, assustadoramente, me enfrentar -, como aquelas baratas que agente atira sobre elas o inseticida, por um tempo ficam ali mortinhas, mas, horripilantemente, se levantam e caminham na direção da gente.
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