- Januário seu imbecil buscaste um parapeito muito largo. Como pretendes...?
- Já não consigo mais te ouvir, deixa-me, por favor!
- Como posso deixar-te se és tu quem me procuras, sempre e sempre? Eu já nem tenho descansado por tua causa estou sempre às voltas – O que te passa homem? Agora que estou contigo roga-me para que eu te deixe. Não! Quero que tomes coragem e que acabes com essa tua indecisão.
- Januário, ouve-me!
- E tu quem és?
- Aqui é melhor, anda vamos conversar.
- Lá vai o covarde desistir outra vez! Não vês que a platéia aumenta a cada segundo? É o teu momento triunfal – Ouve o teu nome sendo gritado pela multidão! Estão todos ansiosos, não me digas que vais decepcionar a todos.
- E, tu, também, achas que não tenho coragem? Vou dizer que não há cabra mais macho: fui eu quem pulou no rio para salvar aquela velhinha; passei tanta necessidade, mas, quando vieram me oferecer para comandar àquele batalhão de crianças lá no morro, fui eu quem disse não ao Betão – o chefe do aliciamento de menores daquelas bandas. Quando vi amigos se indo enfrentei a tristeza e batalhei sozinho nas lides diárias, além de... Mas, agora já não dá, não aguento mais!
- Lá vai o chorão, anda logo pula!
- Januário, tu tens dado ouvido à malevolência, sofrido por conta da vaidade, te acreditas vitimado, porque tens te alimentado com a ingratidão e estreita é a simbiose entre ti e o egoísmo. Não obstante, nenhum, dos teus méritos foi esquecido. Ergue-te.
- Isso é conversa pra tolo dormir. Avia-te! Agora, sim vais ficar só, porque com toda essa tua demora e covardia o povão já está se indo.
- Eh, a senhora é...!
- Sou eu mesma. Por que não desces daí?
- Não pode ser, a senhora morreu meses depois do acidente do rio.
- Em realidade, estou ainda mais viva.
- Bom dia! Como está se sentindo?
- Onde estou?
- O Senhor está no sanatório de Três Corações e eu sou o Tonho, estou aqui para acompanhar a sua recuperação.
- Eu pulei?
- Felizmente, não!
- Olá, Januário, com quem você estava conversando?
- Com o Tonho, claro!Não estás vendo?
- Ah, com o Tonho, sei... Muito bem, já acabou o banho-de-sol.
- Pra onde estás me levando?
- Não se faça o louco comigo – claro que é lá pra dentro do xilindró.
- Idiota, não pulaste, mas empurraste, lá de cima, a autoridade...
- Tu outra vez... - Tonhooooooooo
- Calma, meu amigo, estou aqui.
E, tu, vai de retro...
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