Há dias em que nos falta de tudo.
E nos afoga a melancolia que invade destemida todo o ser,
Que nestes instantes se volve ainda mais débil.
Todas as lembranças, boas e ruins se igualam, num só pesar.
Há dias em que o silêncio nos aborrece e os sons nos entristecem.
E a debilidade se alarga nos deixando sem qualquer paladar pela vida.
As saudades boas se enodoam pelas lágrimas que vêm a cada mágoa recordada.
Há dias em que nos falta de tudo
E a essência de que somos especiais, conquanto, passageiros de agonias, mas em potencial superadores de obstáculos, se nos assemelha tão etérea que sentimos a esperança nos escapar.
No entanto, e, ainda que, todos os olhares se desviem das nossas escassezes, que todos os braços se recolham declinando de um estender de mãos, que todos os passos se afastem, sem rastros deixarem para não serem seguidos por nós, que todos os ouvidos se recusem a nos ouvir e que de nenhuma boca venham palavras confortantes.
Ainda assim nestes dias em que tudo parece nos faltar e que, também, todos aqueles a quem recorremos nos fogem, e nos sentimos um fiasco; são, todavia, os dias mais prósperos, pois é quando humildes ou, ainda que, revoltados quebramos os grilhões da prepotência, livramos-nos do imperialismo da vaidade, dizemos não ao orgulho e choramos copiosamente as próprias faltas, embora, não reconhecidas até então.
São nestes dias e/ou nestas noites em que a providência Divina nos prepara os banquetes espirituais muito a propósito, em nosso favor. E que deveram nos suprir todos os vazios, objetivando revigorar nossos ânimos e nos alimentar os ideais para as novas empreitadas, visto que ninguém é relegado ao desamparo pela Providência.
E quando nos parecer faltar de um tudo
É justamente quando estaremos sendo não só amparados, mas, bem cuidados pela Suprema Sabedoria. Porquanto pequeninos que somos, não possuímos ainda, capacidade de bem compreender a excelsa grandeza das privações.
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