Ai-jesus, como dormi!
Devo ter perdido a hora, como vou me explicar agora... Primeiro dia de aula, e, eu logo de entrada chegando atrasada – Não posso dar essa mancada, àquele pessoal é um tanto quanto exigente. Já ouvi muitos comentários. Também, quem mandou dormir tarde, Senhora! O pior é que não lembro nem de que maneira eu fui parar na cama ontem, àquela dor de cabeça era de matar qualquer um, meu Deus!
E, que sonho mais horroroso!
Desse me lembro nitidamente e para esquecê-lo vou agora mesmo tomar àquele banho frio que é para espantar os maus presságios.
Mas banho frio!
Não, melhor não! Um banho bem quente para não somente espantar, mas, apagar de todo essa sensação... Mas, que sonho ruim! Esse tipinho é o que se pode a bem de toda verdade chamar de baita pesadelo.
Lê, meu bem, acorda! Amor enquanto eu tomo banho, será que dá para você preparar àquele cafezinho pra gente tomar juntos antes sairmos?
Aí, aí que moleza!
Eu e meus atrasos, mas, já que estou atrasada; vou dar uma olhadela nas crianças. Que dorminhocos! Assim, parecem três anjinhos - desculpem-me meus amores, em realidade vocês são meus anjos queridos. E me parecem tão crescidos! Que andaram comendo no jantar, estão todos tão grandes? Nina que cabelos compridos são estes...? Júnior meu garotão, crescido feito um gigante! Meu Deus que está acontecendo? As crianças estão superdistintas... Minha bonequinha ainda ontem era um bebê, hoje a vejo quase mulher feita...
Que louca vontade de ver o meu jardim... Não faltava mais para completar meu atraso – Mas, vou ou não vou ver minhas flores? Ah! Às favas com o tempo. Depois daquele pesadelo acho mesmo é que tenho que fazer o que me der na telha – Pois a vida pode ser mais efêmera do que parece.
Que lindo está, bom dia meu amigo sol! Até você; Brutos... Que está acontecendo? Tudo está tão diferente. Que delicia esse calorzinho! E essa agora, que vontade ainda mais louca de sair correndo! Vamos lá sombra ver que chega primeiro...
Amor, Lê, vem cá ver como estão lindos os meus canteiros.
Que coisa estranha! Não me lembro de ter usado nenhum fertilizante, nesses últimos dias, para estes canteiros estarem assim tão maravilhosos!
Lê querido...
Leandro!
Tomando o nosso cafezinho, sem a minha pessoa presente, e, ainda por cima, devorando meus pãezinhos prediletos... Seu traidor, comilão!
- Meu Deus, o tempo voa! Seis anos hoje, e ainda não me acostumei... Por onde andarás amor meu?
- Ei, amor! De quem está falando? Estou aqui, pô!
- Bom dia pai, falando sozinho outra vez... Posso enxugar essa lágrima, a Nina e o Júnior já estão vindo?
- Oh, que falta de respeito? Acaso eu não estou aqui mocinha? E o beijo de sua mãe... Quem está chorando?
- Oi, pai!
- Bom dia, papai!
- Bom dia, filho! Olá linda! Venham cá, então, todos estão lembrando que dia é hoje, e, dos nossos sérios compromissos para este dia?
- Claro que estamos pai!
- E a que horas iremos ao cemitério ver o túmulo da mamãe, papai?
- Pai, você já deu uma olhada nos canteiros hoje? As flores amanheceram maravilhosas parecem até saberem que dia é hoje. Mamãe iria ficar encantada com seus canteiros se estivesse aqui. Lá fora o cheiro de rosas está surpreendente.
- Então venham, vamos colher algumas flores para levar à capela e ao cemitério.
- Não, não pode ser...!
Digam-me, por favor, que tudo isso não passa de uma brincadeira sem graça. Que não é verdade...
Meu Deus!
Então, não estou para nada atrasada, infelizmente.
E não era sonho!
Ou será que sonho agora?
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