E, aí...?
- E aí, o que, seu Doutor?
- Você não está querendo que eu acredite nessa sua história, nê?
- Se o doutor não quer acreditar, não acredita sô. Mas, é como estou dizendo vi ele descer e depois foi trazido por duas grandes mãos que botou ele para fora do mar, seu doutor. Logo depois que ele subiu não disse uma só palavra. Vou lhe contar nunca tinha visto olhos mais esbugalhados; subiu com os olhos que de tão arregalados se pareciam com olhos de um grande gato nos escuros, fitos na gente, e, vou lhe dizer mais neles tinham um brilho todo diferente. O seu doutor precisava ver. Vou lhe contar, também, mesmo a gente estando lá no meião do mar Pedão gostava de se vestir como se fosse pra festa; todos os dias ele vestia terno e gravata, punha àquele chapéu de massa, andava alinhado o galego; o chapéu, dizia ele, que foi presente de sua amada por isso dele não se afastava. Assim que ele chegou na plataforma a gente implicou muito com modo dele se vestir; a gente dizia que ele era o almofadinha de iemanjá, mas, depois de algum tempo a gente se acostumou, na verdade ele nunca ligou para maneira como era tratado, também, ele mão metia a mão na graxa; era só lá metido com àqueles papéis; era ele quem cuidava do nosso pagode, tutu, bufunfa, do nosso dinheiro, doutor o senhor entende? E foi desse modo que ele caiu da plataforma indo até às profundezas do mar e pouco tempo depois de ter caído voltou. O senhor não vai acreditar voltou todinho vestido, igual, igual como havia decido, e, ainda trazia o ray-ban na cara e o chapéu de massa branco na cabeça. Vou lhe dizer se eu não tivesse visto também eu não ia acreditar nisso; ele foi trazido e posto em cima da plataforma, do jeitinho que estou lhe contando, por as duas mãos bem grandes, inacreditavelmente grandes seu doutor. Depois do nosso susto. Porque a gente se assusta né doutor? Teve gente que borrou as calça e não foi só de mijo, não... Uma coisa de louco! Tenho muitos anos no meio do mar, e vou lhe dizer já tinha ouvido muitas histórias, mas, ver, como vi, com esses dois olhos, nunca, até àquela noite do acontecido com o meu compadre nunca seu doutor.
- Seu Genésio o senhor bebe?
- E o senhor queria que um homem sozinho, dias e dias lá onde o nada faz encruzilhada com lugar nenhum. Noites e noites vigiando a escuridão até a chegada de um novo dia, no frio ou na chuva onde de vez de vez e sempre para matar o tempo se tem que brigar com as sua próprias lembranças e medos, não bebesse seu doutor? Ora seu doutor!
- E fumar, o senhor fuma?
- Também, o senhor sabe, entre uma caninha e outra uma boa tragada vai muito bem, senhor num acha?
- Que tipo de cigarros o senhor fuma seu Genésio?
- Eu, bom quando tenho minhas folgas em terra, costumo ir no mercado grande visitar os amigos, esses eu tenho a dá com pau, contra o gosto de minha mulher, ali compro uns quilos de fumo de rolo para eu mesmo fazer os cigarros e umas garrafas cana. Só que naqueles dias meu patrão pediu para agente ficar por lá mais algum tempo, tempo esse que durou quase dois meses. Então, foi nessa visita do meu patrão à plataforma que conheci aqueles gringos que estavam com ele, pedi que deixassem uns cigarros, e, foi aí que eles me deram uns pacotinhos de fumo. Vou lhe contar como gostei daquele fumo, aqueles gringos sabem se dar o luxo de uma boa tragada.
- Seu Genésio por qual motivo o senhor jogou seu amigo Pedro no mar?
- Quem disse isso seu doutor? Não joguei meu compadre no mar não. Foram aquelas mãozonas que levaram ele outra vez lá pras profundezas. Ele até queria que eu fosse, pra eu ver tudo o que havia por lá. Mas, sou um trabalhador de confiança do meu patrão, achei melhor ficar e, também, pra contar essa historia. Que ninguém tá acreditando. Mas, senhores acreditem! Senhores eu vi.
- Bom, dia senhora! Neste hospital se encontra Genésio Bundo?
- Sim, enfermaria 777. O senhor deverá se identificar aos policiais que estão à porta da enfermaria, e devido ao estado Sr. Genésio a recomendação do psiquiatra dele quanto à permanência na enfermaria, para cada visitante, é de apenas 10minutos. O seu nome, por favor.
- Marciano
- Pedão!!!
- E aí?
- E ai, o que...?
- Já está pronto pra pôr um fim nisso? Vou lhe dizer compadre ninguém tá acreditando na sua historia.
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