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31 de dezembro de 1970.

O casal Raimundo e Rosa admirados por nunca terem visto, estavam, por assim dizer em estado de choque.
- Meu Padim! Quanta, gente né Rosa?
- De onde será que saiu esse mundão! E, será que cabe tanta gente nessa cidade Raimundo?
- Como tu é besta mulher! Claro que cabe, tu é muito besta nalgum lugar deve se meter toda essa gente.

A multidão, as luzes ofuscantes e fogaréu suspenso no ar, assim como a cortina de concreto os impedia de ver a cidade no seu total.

- E tu acha Raimundo que agente vai viver aqui por perto, atrepado, como eles?
- Ah, mulher besta! Que sei eu a essa altura. Deixa de conversa vamo aproveitar a festa.
- É vamo aproveitar...
- Raimundo só mais uma coisa, sabe acho que não vou me acostumar lá em riba não.
- Mulher já disse deixa isso pra depois. Uma coisa eu te digo se não tiver outro jeito tu vai ter que se acostumar lá em riba sim.
- Que, que foi dessa vez?
- Raimundo o nenê tá chegando.
- Não dá pra segurar isso não?
- Tu me chama de besta, mas, tu é que é burro! Como vou fazer pra segurar as dores, e pára de parir home?
- Não sei, mas justo no meio duma festa com essa! Eu que nunca tinha visto coisa tão bonita. Se fosse comigo eu segurava, pra num perder nadica.

Lá bem no alto derramam-se as cascatas de fogos saudando o novo ano. Os estalidos de tantos fogos abafam as vozes de Raimundo e Rosa, que vagueiam buscando ajuda, a procura se torna vâ; ninguém os nota, são apenas mais dois no meio de tantos. Descortina-se o novo ano.

- Pode parar Raimundo tem que ser aqui...
- Aqui...?!

Sem responder ao marido Rosa acocora-se e Zé irrompe, mostrando-se ao mundo em meio à grande festa. No entanto tem sua primeira manifestação ignorada e abafada pela grande algazarra do réveillion. Como se fosse uma oferenda aos deuses tem seu minúsculo corpo carregado pelo pai, orgulhoso, rumo ao mar, sob as luzes das cascatas e inúmeros flashes - Zé reluzia.

- Olha, ai macho a festa que preparam pra tu!

Zé chora espavorido ao ter seu corpinho lavado nas águas daquele mar. Rosa já recomposta, de pé, apenas observa o marido no cerimonial. Teme pelo filho, entretanto, deixa o marido desfrutar do filho naquele instante.

De volta, ainda no meio da areia o marido devolve o nenê a mãe. O casal já não segue a festa, apenas se deleitam nos encantos do filho. Esse é levado ao seio materno que o suga vorazmente. Saem a caminhar e alojam-se sob uma marquise. Horas depois Raimundo de súbito levanta-se comenta algo com Rosa e sai. A mulher não reage. Com o a claridade do dia Rosa percebe que não somente ela refugia-se sob a marquise. Pensa e comenta com o filho como se esse fosse capaz de entendê-la. Mas, que festança, hem filho? Zé movimenta-se e busca outra vez o seio da mãe.

Raimundo retorna, um pouco entristecido, Rosa o anima, Raimundo levanta-se. Cascavilha as trouxas e novamente sai. De longe sorrir para esposa que o retribui vem trazendo consigo dois embrulhos. Aquela era a primeira refeição de Rosa após o parto - Um copo de leite com café e um pão francês com uma merreca de margarina. Recostam-se nos trapos e iguais aos demais adormecem.

O sono de Rosa é entrecortado por sonhos e pelos movimentos do filho, que não se desgruda do peito, como se fora siamês a própria mãe. Outra vez é noite e as luzes da cidade voltam a iluminar os corpos abstraidos na contemplação encantadora da gente que se movimentam num vai e vem, entretenidos entre si e sem notar àqueles que os observa. Raimundo e Rosa vêem tudo como se estivessem diante de cenas de um grande espetáculo. Noites e dias passam e nostalgia do espetáculo, também, passa.

Raimundo impacienta-se não foi assim que imaginara sua vida na grande cidade. Depois de um dia vagando volta animado comenta com a mulher que havia encontrado um trabalho, e um amigo feito lá na obra lhe ofertara a casa para os hospedar. Pega o filho nos braços o acaricia, comenta alguma coisa que passa imperceptível à Rosa, e logo o devolve à mãe. Estende-se nos papelões, ajeita a trouxa embaixo da cabeça e dorme. Sonha que está bem lá no alto debruçado por sob uma grande janela admirando-se do mar e das pessoas, que de cima, de onde às observava mais pareciam umas formiguinhas.Nisso aproxima-se Rosa lhe sorrir e o chama para o almoço posto numa mesa bonita e grande bem cheia de tudo que ele mais gostava.

Rosa neste instante toca nas costelas de Raimundo lhe despertando.

- Anda home, vamo para casa do teu amigo não agüento mais essa calçada dura.

Raimundo levanta-se vai até o banheiro público da rodoviária. Quando retorna Rosa já se encontra a postos com o Zé num dos braços e alguns pertences no outro. Aponta ao marido um caixote, lá dentro contém alguns cacarecos, que ele deverá conduzir.

Dirigem-se, à casa do amigo recém feito. Pela primeira vez sobem o morro. O barraco fica lá, quase no topo. Rosa enfada-se com a subida. Raimundo sensibiliza-se com a esposa e lhe promete algo, ela lhe sorrir e mais animada o segue. O casal amigo os recebe e lhes oferta o quarto de casal. Da janela do pequeno barraco observam a grande cidade e os grandes braços do cristo.

A empatia entre os casais foi recíproca. Tornaram-se compadres e vizinhos. Os retirantes se acostumaram ao morro, viviam entre a admiração da grande cidade, a rotina e a esperança de retornar ao sertão para rever os parentes. Raimundo, de obra em obra, ajuda na construção de grandes prédios. E sempre que se debruça sobre alguma janela recorda-se de seu sonho. Rosa já não se não fatiga mais ao subir o morro, acostumara-se, e o sobe lépida e fagueira à moda de sua terra carrega quaquer coisa sobre a cabeça enquanto sobe. Sempre, ao conversar sobre a sua própria historia, repete a aventura que foi sua chegada naquela cidade e o nascimento do seu filho Zé.

Zé crescerá rápido. Em sua meninice, todos os anos, o pai repetia o ritual de levá-lo para ver o reveillon nas areias da praia de Copacabana. Os pais, os irmãos e ele desfrutavam como se de fato a festa estivesse a comemorar o seu aniversário.
Contudo, a vida não lhe sorria. Tornou-se pião de obra como pai, sem tempo para estudar não foi além dos primeiros anos do ensino fundamental. Não obstante era trabalhador e honesto. Casara-se e emocionou-se ao visitar a esposa que acabará de dar a luz ao seu primeiro filho que nascera em um hospital, embora fosse um hospital público.

Ao segurar o filho pela primeira vez lhe segredou – Pois é macho tu vai ser mais que o pai... A voz do Zé quase que deu um nó ao dizer ao filho que ele havia nascido em um hospital e isso já era um bom sinal. E que sua mãe se encontrava comodamente em uma cama a espera, para lhe amamentar.
Zé afetuosamente beija o filho e o devolve aos braços da esposa. Beija-a carinhosamente, despede-se e sai. Encaminha-se para casa pelo caminho vai feliz pensando na surpresa que preparou para a esposa – Comprara todo o enxoval do bebê, comprou à vista, inclusive, o berço do Júnior, era o mais bonito – a atendente da loja lhe disse o Senhor está comprando um lindo berço: “É importado” digno de um reizinho.

Zé estava trafegando pelo calçadão quando é atropelado por um belo carro, um desses importados, estava sendo conduzido por um figurão ora embriagado. Perdendo a direção, sobe com o veículo no calçadão. O condutor retorna ao asfalto e segue, sendo perseguido por alguns metros por uma viatura militar, num ínterim qualquer, submete-se a solicitação policial e pára. O passageiro, carona, dialoga com os policiais lhes sorrir entregando a um deles um cartão. Um dos policiais recebe o cartão, retribuem o sorriso e liberam os condutor e passageiro do importado.

Os para-médicos aproximaram-se de Zé, entretanto nada mais puderam fazer... Os curiosos que se aglomeravam junto ao corpo foram em sua maioria dispersados pelos policiais, entre esses, se encontravam os que foram agraciados com o cartão. Os demais passantes ao verem o corpo estendido ao chão dirigem-lhe uma olhadela e seguiam, no percurso iam buscando as informações do acontecido e assim ficavam a par de todos detalhes, com relevancia os pitorescos referentes ao veículo. Os policiais remexem os bolsos da vítima sacando-lhe a carteira nela continha apenas a RG e um pedaço de papel com as notações: visita de 15h30 ás 17h30, enfermaria 30, leito 12.

Desanimado o policial Santiago, sacode negativamente a cabeça e diz aos colegas infelizmente nada mais se pode fazer, até que a criatura seja reclamada por seus parentes, ao que responde, o policial que guardava consigo o cartão do ilustre – “Vamos recolham o pobre traste, não é ninguém, quem o irá reclamar é só mais um Zé – Quem sabe seja ele somente um Zé ninguém”

José Raimundo Rosa Boa Ventura, o Zé, nasceu a 0h de 1979 nas areias de Copacabana, toda reluzente. Vindo a falecer 23 anos depois numa triste tarde de uma quarta feira de cinzas.

Aos quarenta e cinco anos o Sociólogo Jose Raimundo Rosa Boa Ventura Filho. É homenageado pelos confrades e acadêmicos de varias universidades do país, que o congratulam por sua obra reconhecida internacionalmente - Quando a medida do ser passa a ser maior que a do ter - O homem, qualquer Zé, pode valorizar a si e aos demais. Pode ir além, e, também, pode a aprender a dizer não a muitas tentações. Derivando dessa valorização e aprendizado a percepção da real medida do ser humano e esta para ele se sobrepor ao padrão mais elevado do ter.

O Sociólogo Zé Filho aproxima-se da janela do salão de festas de um dos mais famosos hotéis em Copacabana. Debruça-se em seu parapeito e isoladamente estende um olhar àquele mar e intimamente faz retumbar.

- Olha, ai machos a festa que preparam pra nós!

Texto agregado el 05-12-2006, y leído por 187 visitantes. (0 votos)


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