Para além de onde possa ir a imaginação, num tempo já bem ido, onde o que acontecia era, porque tinha que acontecer. Hilariantes acontecimentos movimentavam a vida dos pacatos moradores daquele povoado. O pequeno vilarejo era palco de festejos o ano inteiro e quando uma festa pública religiosa distanciava-se da próxima, àquela gente animada por sua conta promovia às festas que estavam para o espírito alegre daquele povo, como o néctar para os deuses.
Assim que numa dessas animadas festas no terreiro da casa de Mundica um personagem bem conhecido no lugarejo, pelo seu jeito todo prosa de ser, com seus quase 90 anos e um modo já meio infantil ao falar, devido a falta dos dentes; aproxima-se de Rosa uma mulata muito cobiçada e boa dançarina – Camundongo, como era conhecido, chega bem junto de Rosa segura-a pelo braço, o que lhe causa um certo incomodo, e lhe diz:
- Senhorita, me dar o prazer dessa contra-dança?
- Eu não posso seu Camundongo estou cansada.
Contrariado e impertinente, valendo-se da idade Camundongo contesta:
- Como cansada sua meretriz, se não quer dançar, porque está aqui sua égua escrota...?
Rosa apesar de freqüentar as festas de sua madrinha, não era moça que dançava com qualquer um, pois vivia sempre vigiada pelos nove irmãos. E ao sentir-se constrangida recorreu de imediato ao seu batalhão particular, relatando-lhes o ocorrido.
Alguns dos irmãos de Rosa vão ao encontro de Camundongo que se estava a uma mesa ao lado de um velho amigo degustando alguns petiscos.
Ao ser encontrado foi sendo logo abordado pelos irmãos de Rosinha:
- Seu Camundongo como pode o senhor uma pessoa tão ilustre dirigir-se a Rosinha, de maneira tão vulgar, o senhor sabe que já não tem idade para nos enfrentar?
Camundongo perspicaz, devido ha tantos anos no oficio de advogado defende-se:
- Meus filhos do que estão falando?
- O Senhor, seu Camundongo, andou chamando, nossa irmã de meretriz e égua...
- Jamais eu perderia a compostura diante de uma donzela, deve com certeza, ter ela escutado mal devido essa minha boca banguela – Eu disse a Rosinha, minha filha, você me dar o prazer dessa contra-dança? Ela me respondeu não seu Camundongo eu estou cansada, então, com todo respeito lhe disse eu: menina não minta que vai crescer o seu nariz...
- Que mentira, ele..!
- Rosinha!
- Não minha moça eu simplesmente disse: não tem problema você não dança comigo essa, mais quem sabe mais tarde dança outra.
- Ta vendo Rosinha, que vergonha nos fez passar... Desculpa seu Camundongo, essa tonta agora mesmo em casa vamos deixar.
Camundongo chama o companheiro de mesa e maliciosamente lhe confidencia:
- Chamei mesmo essa fresca de rapariga e de égua escrota e rota.
Os dois velhos maledicentes seguiram o resto do baile amistosamente rindo-se.
Rosinha além de ter sido desacreditada pelos familiares demorou a ser vista nos bailes da cidade. Coincidência ou fato proposital o certo é que, tempos mais tarde, Rosinha deu uma bela festa enquanto o velho Camundongo estava sendo velado lá para às bandas do morro do chapéu. As festas de Rosinha são afamadas e anualmente se repetem trazendo alegria à pequena cidade.
E nas rodas de amigos todos, ainda hoje. comentam as historias do velho Camundongo.
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